sábado, 24 de dezembro de 2011

Profissão político vira filão para mudar de carreira em 2012


Votação do Mínimo no Senado

As eleições municipais de 2008 movimentaram um exército de brasileiros dispostos a mudar de carreira: 349.773 pessoas se candidataram a uma vaga de vereador e 15.903 tentaram virar prefeito, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Como a concorrência é grande, é cada vez mais comum ver novatos apostando na profissão político e investindo em cursos para aprender a domar a timidez, a falar em público, a se vestir adequadamente, a participar de debates e a dar entrevistas.

Um dos grandes atrativos da “profissão” é o salário, cujo aumento é decidido pelos próprios vereadores. Este ano, por exemplo, os políticos da Câmara de Piracicaba, no interior de São Paulo, aprovaram reajuste de 80% e passaram a receber R$ 11 mil por mês. Mas o político profissional também não pode esquecer os benefícios: verba de gabinete para pagar assessor, verba indenizatória para viajar, auxílio paletó, auxílio alimentação, auxílio gasolina etc.

Para o professor de Marketing Político da USP (Universidade de São Paulo), Celso Matsuda, “qualquer pessoa pode se tornar um político” quando bem orientado.

- Mas o curso é recomendado para aquele que já desenvolve um projeto comunitário ou é respeitado por um setor da sociedade, mas é tímido ou não sabe como expandir suas aptidões.

O curso, que dura até dois anos, atrai pessoas interessadas em trabalhar com política, como assessores parlamentares. Mas dos 40 alunos que estão atualmente matriculados, 10% estão interessados em se tornar “vereadores e secretários municipais”.

- Muitos são candidatos em potencial [...] Entre 2005 e 2006 a atual prefeita da cidade de Cruzeiro, Ana Karin (PR), fez o curso com a gente.

Ele diz que o currículo inclui planejamento da campanha, marketing do político, comportamento do eleitor e até formação intelectual, como discussões de psicologia e sociologia. Mas Matsuda diz que para uma formação mais focada no político, o ideal é participar de Media Training, cursos de até um mês que ele também ajuda a coordenar fora da USP.

- Na prática, treinamos o político a ser seu próprio porta-voz. Usamos laboratórios, com estúdios de TV, câmeras e jornalistas reproduzindo o ambiente em que ele vai encontrar quando estiver em campanha.

Ele diz que, depois de passar pelos testes, o comportamento do aluno é avaliado, “e ele consegue perceber seus defeitos e as barreiras que precisam ser transpostas, como a diferença do vocabulário que se deve usar no rádio e na TV”.

A simulação da realidade também é usada por outro especialista, o fonoaudiólogo Simon Wajntraub, que tenta destravar políticos que têm medo de falar em público. Ele compara o próprio método com o do médico que ajudou o rei inglês Jorge 6º a superar a gagueira no filme vencedor do Oscar O Discurso do Rei (2010).

- Eu detesto teoria. Ela não funciona. Meu método é o da provocação. Eu vou filmando, provocando e mostrando na hora o que está errado, e o próprio político enxerga o que precisa mudar. Em um auditório lotado de pessoas, ele coloca o candidato na fogueira. O público está livre para perguntar e, principalmente, provocar. Ao notar o ponto fraco do aluno, Simon mira justamente nele.
- Quase tudo é de fundo emocional porque as pessoas são castradas desde pequenas. O que eu faço é acabar com isso provocando. A minha aula é um teatro.
O método pode ser polêmico, mas já está em uso desde 1968. Por suas mãos já passaram políticos como o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB) “que gaguejava”, o ex-vice-candidato a presidente Índio da Costa (PSD), “muito tímido”, e o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
- O Lobão já me chamou em duas campanhas políticas porque colocaram prótese de silicone na corda vocal dele.
Simon, que participa de comerciais no rádio, diz que é capaz de fazer 60 vozes diferentes. Uma delas foi usada para tentar salvar o ex-presidente Fernando Collor de Mello do impeachment, em 1992.
- Um grupo de pessoas que o defendia pediu que eu fizesse uma locução para 500 rádios. Eu fiz, mas avisei: ‘não bota meu nome não!’ (risos).
No momento, 30 de seus alunos são candidatos a prefeito e vereador. Ele diz que, se o problema for timidez, “um mês basta”, mas que gagueira é o pior caso.
- Precisa frequentar até 300 aulas. Três por semana. Cada aula custa R$ 150, ou até R$ 45 mil se todas as aulas forem necessárias.
E-book
Outro que promete ajudar político novato é o presidente da Câmara Municipal de Presidente Venceslau, o vereador tucano Eliseu Bayer – o terceiro mais votado nas eleições municipais de 2008.
- Depois da primeira campanha [2004], que eu perdi, descobri que algumas técnicas funcionaram bem. Então, na eleição seguinte, eu montei um e-book contando a minha campanha. Tentei fazer um trabalho bem simples com a minha experiência e as técnicas que funcionaram.
Ele ensina a economizar o dinheiro do jingle compondo chamadas “criativas” no horário eleitoral ou frases de efeito para ser repetida nos carros de som.
- No horário eleitoral gratuito todo mundo diz a mesma coisa. No meu caso, eu coloco algo diferente, como um exército falando o meu nome. Não é para enganar. Na hora da decisão, muito eleitor vota na campanha que mais chamou sua atenção.
Para economizar no santinho, ele recomenda o que chama de “boletim informativo”: metade de uma folha de sulfite contando resumidamente a história do político.
- Ao invés de 10 mil santinhos, prefiro 5.000 com minha história, propostas e orientações eleitorais.

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