Dilma chega a Cuba em sua primeira visita de Estado ao país
Presidenta deve se concentrar nas oportunidades que surgem com a abertura econômica de Cuba
BBC Brasil
| 30/01/2012 21:49
Presidenta Dilma Rousseff é recepcionada pelo ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodrigues
A presidenta Dilma Rousseff desembarcou no fim da tarde desta
segunda-feira, em Havana, Cuba, para sua primeira visita de Estado à
ilha caribenha.
Acompanhada dos ministros da Saúde, Alexandre Padilha, do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e do
chanceler Antonio Patriota, titular das Relações Exteriores, a
presidenta não deu declarações no aeroporto e seguiu direto ao hotel
onde ficará hospedada.
Dilma deve deixar de lado os apelos para que aborde a questão dos
direitos humanos em Havana e deve se concentrar nas oportunidades
geradas pela progressiva abertura econômica do país caribenho.
A viagem, que se estenderá até a manhã de quarta-feira, ocorre uma
semana após a liberação da última parcela do empréstimo brasileiro de
US$ 682,15 milhões à ampliação do porto cubano de Mariel, a 40 km de
Havana. Depois de Cuba, Dilma seguira para o Haiti.
Antes da viagem: Dilma dá largada na agenda do PAC antes de viajar a Cuba
Executada pela empresa brasileira Odebrecht e prevista para terminar
em janeiro de 2013, a obra inclui uma "zona especial de
desenvolvimento", que abrigará indústrias voltadas à exportação e ao
mercado cubano.
A visita de Dilma também se segue à decisão do Partido Comunista
cubano, neste domingo, de limitar a dois mandatos de cinco anos os
cargos políticos e estatais "fundamentais" do governo, o que foi
interpretado como uma possível sinalização de renovação da cúpula que
comanda o país.
Oportunidades
Segundo diplomatas brasileiros, além de ajudar Cuba em sua missão de
"atualizar" o socialismo e diversificar suas fontes de receitas, a
ampliação do porto de Mariel abrirá oportunidades de negócios para
empresas brasileiras interessadas em se instalar ou expandir as
operações na América Central.
E, caso os Estados Unidos suspendam seu embargo econômico à ilha, as
empresas instaladas no porto terão acesso privilegiado a um dos maiores
mercados globais, uma vez que Mariel está a apenas 160 km do Estado
americano da Flórida.
Por ora, uma companhia brasileira – a fabricante de vidro Fanavid –
já se prepara para construir uma unidade no local, em associação com o
governo cubano. Cerca de 80% da produção da fábrica deverá se destinar à
exportação.
Em sua visita, ainda segundo diplomatas brasileiros, Dilma deve
tratar de uma iniciativa conjunta para a produção de medicamentos,
valendo-se do expertise cubano no setor farmacêutico. Se houver acordo, a
indústria também poderia se localizar no porto de Mariel.
O governo brasileiro também poderá negociar a ampliação do envio de
médicos cubanos ao Brasil, para apoiar o atendimento no Serviço Único de
Saúde (SUS).
Reformas
A instalação de empresas estrangeiras em Cuba tem sido especialmente
estimulada por medidas adotadas desde que Raúl Castro assumiu o poder,
em 2008, e que visam reformar o modelo econômico cubano, paulatinamente
abrindo-o à iniciativa privada.
Nos últimos meses, o governo também cortou subsídios, desvalorizou o
CUC (peso conversível cubano), eliminou 500 mil cargos públicos,
autorizou a compra e a venda de casas e permitiu a abertura de mais de
400 mil pequenos negócios.
Segundo diplomatas, os assuntos econômicos e a cooperação bilateral
devem dominar a visita da presidente. Eles afirmam que Dilma não deverá
atender ao pedido de audiência com a blogueira oposicionista Yoani
Sánchez, que busca a autorização do governo cubano para visitar o Brasil
em fevereiro (ela já obteve o visto brasileiro, mas não a permissão
para deixar Cuba), nem fazer menções à situação dos direitos humanos na
ilha.
A viagem da presidenta ocorrerá 11 dias após a morte do opositor
cubano Wilman Villar. Ele morreu em meio a uma greve de fome pela qual
protestava por ter sido condenado a quatro anos de prisão.
O governo cubano, porém, disse que Vilar estava preso por ter
espancado sua mulher e que ele recebeu tratamento médico adequado na
prisão.
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