sábado, 5 de maio de 2012

Fim de uma era


Eduardo Tristão Girão - EM Cultura
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Arquivo EM
Foram 83 álbuns, cerca de mil gravações, 150 milhões de cópias vendidas de toda a discografia e algo em torno de 40 mil apresentações ao longo de uma carreira de nada menos que 60 anos. Morreu na madrugada de ontem o cantor paulista José Perez, o Tinoco, de 91 anos, que construiu trajetória de inegável sucesso ao lado do irmão, com quem teve a dupla sertaneja Tonico e Tinoco, uma das mais significativas do gênero na história da música brasileira.

O artista passou mal anteontem à tarde e foi levado ao Hospital Municipal Doutor Ignácio Proença de Gouvêa, em São Paulo. Chegou ao local às 15h, com crise respiratória. Familiares de Tinoco afirmaram que ele não sofria de nenhuma doença grave e os médicos que atenderam o cantor informaram que, em função dos sinais apresentados, ele sofreu um enfarte dois dias antes, apesar de não ter sentido sintoma algum. Antes de morrer, já no hospital, teve duas paradas cardíacas.

O velório de Tinoco começou às 10h de ontem, no Cemitério Quarta Parada, em São Paulo. O enterro foi marcado para as 17h, no Cemitério da Vila Alpina, também na capital paulista. O último show da dupla Tonico e Tinoco foi em Juína (MT), em 7 de agosto de 1994. A carreira foi interrompida pela morte de Tonico, que, seis dias depois dessa apresentação, morreu ao cair da escada do prédio onde morava.

Último
Para a jornalista Rosa Nepomuceno, autora de livros como Música caipira: do roça ao rodeio (Editora 34), a dupla Tonico e Tinoco soube cantar muito bem o Brasil da época em que atuou. “Eles formaram uma dupla sem igual. As outras vieram depois, usando-a como modelo. Vieram da roça e começaram cedo a cantar as músicas que fizeram inspirados nela. O café, as festas de São João, os namoros ingênuos, as paisagens”, analisa ela.

Rosa esteve com Tinoco diversas vezes e não apenas para escrever o livro. Conhece a família do artista e tem na memória imagens de shows da dupla aos quais assistiu em praças durante a infância. “Da geração de Tinoco, só havia ele atualmente. Tinha muito vitalidade e gostava de trabalhar, cantar e se apresentar. Ele viveu bem, muito bem”, lembra.

Arquivo EM
Representantes da música sertaneja tradicional, Tonico e Tinoco cantaram juntos por 60 anos. Última entrevista de Tinoco vai ao ar amanhã, no programa Viola, minha viola
Na TV

Segundo José Carlos Perillo Perez, filho e empresário de Tinoco, o pai sentia-se relativamente bem nos últimos tempos. Dois dias antes de morrer, gravou com a cantora e apresentadora Inezita Barroso o programa de televisão Viola, minha viola, da TV Cultura, que será exibido amanhã, às 9h. O artista participou diversas vezes da atração, inclusive no programa de estreia, em abril de 1980.

“Tinoco é tudo. Ele e o irmão foram os grandes nomes da música caipira. As músicas deles encantaram o país inteiro. O sucesso deles influenciou todos homens e mulheres do campo. Aliás, eles ultrapassaram essa barreira e fizeram muito sucesso na cidade. É uma música verdadeira, que vinha do coração. Tinoco era simples, humilde, alegre e genial”, diz Inezita.

As imagens e vídeos das passagens de Tinoco pelo Viola, minha viola farão parte de uma homenagem que a TV Cultura está preparando para ser exibida em breve na internet, no endereço cmais.com.br/viola.

Tradição

O primeiro disco de Tonico e Tinoco foi lançado em 1944, incluindo a canção Em vez de agradecer. Os primeiros sucessos foram Percorrendo o meu Brasil, Cana verde e Canoeiro. Com participação em filmes e agenda de shows contemplando todo o país, a dupla tornou-se uma das mais populares e tradicionais do gênero sertanejo. Chico mineiro, Moreninha linda, Mourão da porteira, Tristeza do jeca, Boiada cuiabana e Canta moçada estão entre seus grandes sucessos de todos os tempos.

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